sábado, 30 de junho de 2012

A AMIZADE

Ah, esse fenômeno instigante, 
o das amizades que se mantêm 
independentes da convivência.

Será amizade? Será saudade 
comum dos anos vividos em amizade?
Será saudade dos anos felizes
ou uma afinidade
que se espraia no tempo?
Não sei responder. 
Sei que com algumas pessoas 
(poucas),
há uma insistência teimosa
em desejar ver, 
trocar idéias e experiências, 
creio, pela certeza da
reciprocidade e do "ser aceito".

Sim, talvez seja a certeza
de ser aceito, 
uma das maiores necessidades 
humanas neste mundo 
de incompreensões.
Talvez seja a necessidade 
da existência de certeza 
prévia de acolhimento ao que somos, 
como somos e ao que pensamos,
o fermento da amizade.

O mistério da amizade 
talvez resida no alívio
que traz a existência
de alguém que nos acolha.
Digo acolha e, não, recolha 
aí já seria dependência de 
um lado e paternalismo do outro.

Acolher significa receber 
de bom grado, previamente,
sem julgamentos ou resistências. 
É molesto o fato de que os 
seres humanos
vivam a julgar e que 
suas opiniões prévias 
interponham
barreiras na comunicação,
dificultando-a.

O mistério da afinidade 
consiste na inexistência
das resistências ao outro, 
mesmo quando haja discordância.
Isso não deriva apenas de afeto.
Quantas vezes há afeto
entre as pessoas sem, porém,
a aceitação natural, 
espontânea e prévia?

Verifique nas amizades
tidas e vividas ao logo da vida,
o que delas restou.
Haverá muita vivência, 
boa e má. 
Raramente, porém,
restará a amizade...

Com os anos, vão se 
tornando escassas as amizades
que atravessaram o 
terreno íntimo que lhes é próprio
sem arranhões e sem mágoas, 
restando, como fruto,
após ingentes experiências
humanas e existenciais,
apenas (e já é tanto...)
a amizade.

Amizade é o que resta da amizade.
Se o que resta de uma amizade 
é amizade, então amizade é.
Da verdadeira! 





Artur da Távola 

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